Caminho íngreme, raízes pregadas
galhos riscam minha pele
engancham meu cabelo
abaixo, empurro
abro caminho
fico ofegante
um lilás
pequenas bolinhas lilás, rosa, azuis
uma só branca
à altura de minhas mãos abaixadas
flores que se tivessem perfume
presenciaria ali
injustiça incondicional
da quem nunca errou
roubando de todas outras
o total esplendor
olhos fixos
emocionados
ando devagar sem acreditar
continuo a trilha apagada
embaraçada
está frio..
um som estranho
não identifiquei
cilindros gigantescos a minha frente
roçando-se uns aos outros
uma visão surreal
do solo ao azul intenso
não sei dizer até onde ia
era muito alto..
não consigo imaginar quantos
não sei... muitos
me aproximei
o som ficou mais claro e forte
uma pequena floresta redonda
bambus largos
nunca vi tamanha proporção
alguns dançavam a música que produziam
uma neblina pálida difundia o topo
misturando verde, azul e branco
um teto inesquecível
se eu pudesse entrar entre eles...
a união não deixou
não dei a volta
os galhos não deixaram
eu
parada ali...
coração apertado com estranha sensação
do poder
da grandeza
da absoluta instalação
o colorido das bolinhas
entrelaçavam a composição
uma magnitude inexplicável
cor, forma, cheiro, música, dança
conjunto em total harmonia
poucos conseguem tal perfeição ao mesmo tempo
poucos...
poucos puderam ver
poucos...
queria retratar essa imagem
guardei na lembrança
apenas..
recuperar equilíbrio
recuperar pensamentos
recuperar energia escorrida entre dedos
mãos doídas por segurar forte
um medo que não conhecia
que vivi naqueles dias
uma vontade de engolir o silêncio
o silêncio musical que encontrei lá
vontade de sentar
vontade do meu agasalho
vontade do que está próximo
vontade do que vou viver
vontade de...
